DESCOBERTA CIENTÍFICA

Pesquisas identificam proteínas no câncer de mama avançado

Agência USP
25/02/2011
DESCOBERTA CIENTÍFICA

Pesquisas na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP), da USP, abrem perspectivas para se conhecer a evolução do câncer de mama e, ainda, indicam caminhos que podem levar a melhorar a eficiência da quimioterapia e, assim, a resposta ao tratamento.


Os estudos investigaram a expressão, ou seja, a presença de duas proteínas, a HIF-1-alfa (fator induzível por hipóxia-1-alfa) e a VEGF-C (fator de crescimento endotelial vascular), em mulheres com câncer de mama localmente avançado. Segundo os pesquisadores, Luiz Gustavo Brito e Viviane Schiavon, pós-graduandos do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da FMRP e autores dos estudos, ao analisarem a presença do HIF-1-alfa e do VEGF-C nessas mulheres, verificou-se que o primeiro teve prevalência de 66% e o segundo de 63%.

Enquanto o HIF-1-alfa esteve mais intenso, ou seja, apareceu mais em mulheres com axila comprometida pelo câncer, o VEGF esteve mais presente naquelas que fizeram quimioterapia e cuja resposta foi boa. “Isso quer dizer que quanto mais agressivo era o câncer, mas presente o HIF-1-alfa estava, enquanto o VEGF está relacionado a resposta ao tratamento nessas mulheres”, explica Brito.

Para os pesquisadores, futuramente, o HIF-1-alfa poderá ser usado como marcador que dirá qual vai ser o prognóstico da mulher com câncer de mama, ou seja, como será a sua evolução. Já o VEGF-C terá um papel importante nas mulheres que farão quimioterapia. “A quimioterapia funcionou melhor nas pacientes cujo tumor expressou o VEGF, o que sugere que o tumor, ao aumentar a produção de vasos por esta proteína, aumenta a chegada da droga até o leito, matando essas células”, diz Viviane.

Os pesquisadores trabalharam somente com mulheres com câncer localmente avançado e metastático. “Ao contrário dos países desenvolvidos, onde as mulheres descobrem o câncer precocemente, no Brasil, por exemplo, devido ao retardo no diagnóstico, os tratamentos são feitos em estágios mais avançados da doença, às vezes sem cura. Todas as mulheres pesquisadas já haviam se submetido à quimioterapia e cirurgia”, dizem.

HIF-1-alfa é uma proteína descoberta recentemente e ainda pouco conhecida da ciência. Brito diz que pesquisas já têm mostrado que futuramente ela será utilizada para saber qual o perfil do câncer de mama da paciente, se é agressivo o não. “Aí é que entra nossa contribuição. Cada vez mais o tratamento do câncer de mama é individualizado, baseado no comportamento tumoral específico daquela paciente”, argumentam.

Viviane, responsável pela investigação do VEGF-C, adianta que essa proteína já é estudada há mais de 50 anos. “Mas estudos com grupo de mulheres com câncer de mama localmente avançado são poucos e menos ainda aqueles que mostram o seu comportamento, mas ela só deverá ser utilizada como marcador futuramente para predizer uma boa resposta à quimioterapia, assim como pelo uso de drogas que bloqueiem sua ação”, resume.

Câncer de Mama no Brasil

Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA) para 2010 eram esperados 49.240 novos casos de câncer de mama, ou seja, um risco estimado de 49 casos a cada 100 mil mulheres. Ainda, de acordo com o INCA, na Região Sudeste, o câncer de mama é o mais incidente entre as mulheres, com um risco estimado de 65 casos novos por 100 mil. Sem considerar os tumores de pele não melanoma, este tipo de câncer também é o mais frequente nas mulheres das regiões Sul (64/100.000), Centro-Oeste (38/100.000) e Nordeste (30/100.000). Na Região Norte é o segundo tumor mais incidente (17/100.000).

A Direção Regional de Saúde (DRS) de Ribeirão Preto registrou 281 novos casos de câncer, sendo 31 de mama no ano de 2010, segundo dados da Fundação Oncocentro de São Paulo (FOSP). É uma das principais causas de mortes entre as mulheres. Entretanto os pesquisadores alertam que a chance de cura para o câncer de mama pode chegar a mais de 95% se descoberta em estágios iniciais. A recomendação da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) é de iniciar o rastreamento a partir dos 40 anos com mamografia anual e visita a um profissional de saúde para exame clínico das mamas.

“Em mulheres com história familiar de câncer de mama, pode-se iniciar o rastreio com 35 anos ou 10 anos antes da idade do diagnóstico da familiar de 1o grau. O auto-exame das mamas não é um método capaz de detectar precocemente o câncer quanto os outros métodos”, finaliza Brito.