PEDIATRIA

Conheça as técnicas mais utilizadas para manter as crianças quietas durante o posicionamento radiológico

Ascom CONTER
06/09/2019
PEDIATRIA

O profissional das técnicas radiológicas enfrenta muitos desafios no exercício da profissão. Atuar exposto a agentes nocivos, executar técnicas complexas com precisão e suportar a pressão pelo diagnóstico dos pacientes são apenas algumas das inúmeras tarefas na rotina de um profissional da Radiologia. Contudo, não há dúvidas: de todas as responsabilidades, uma das mais difíceis é conseguir posicionar e manter as crianças quietas por alguns segundos até a realização de um exame radiológico. Essa proeza exige técnica, paciência e um bocado de criatividade.

Do alto de sua experiência de 32 anos, a técnica em Radiologia Ivonete Maria Santos decidiu criar uma verdadeira festa em seu ambiente de trabalho, para envolver as crianças e criar um universo lúdico para os pequenos. “Uso uma luz dessas de balada, colorida, adaptada na tomada. Jogo a luz para o teto e ligo um rádio, no qual fiz uma seleção de músicas infantis. Só a luz já deixa os pequenos perplexos e, quando ligo o som, elas ficam paradas”, conta. Pequenas intervenções como essas ajudam a melhorar o ambiente, quebram o gelo e geram melhores resultados.

Mas, se a missão é realmente difícil, o profissional pode contar até com os super-heróis. “Quando eu faço procedimentos envolvendo crianças, procuro deixá-las o mais calmas possível, haja vista que crianças são bastante inquietas, e isso prejudica o exame. Eu digo: ‘fulano, tú quer ver o homem aranha? Olha para aquela luz (luz do colimador), o homem aranha vai aparecer lá. Fulana, tú gosta da Frozen? Olha para aquela luz, ela vai aparecer ali, oh...’”. A criança trava no posicionamento. Sempre dá certo”, ensina o técnico em Radiologia Marcone Castro, de Teresina, no Piauí. “Sempre uso técnicas assim. Em minha sala, aparece tudo que é bichinho. O avental plumbífero é a roupa do super homem, para proteger a mamãe. Também uso a brincadeira da estátua: ser ele mexer eu ganho e ele perde. Funciona que é uma beleza”, conta a profissional Fabi Alves.

Para quem trabalha diariamente com crianças, o maior risco é se apaixonar e entrar no mundo lúdico que elas criam a cada imaginação. A técnica em Radiologia Sthefany Rebeca sabe bem o que é isso. “Tenho paixão por fazer exames em crianças, uso todas as técnicas que tenho quando é preciso. Até que um dia eu fiquei um pouco preocupada. Falei para o paciente continuar olhando no colimador que iria aparecer um passarinho verde. Realizei o exame logo perguntei: você viu? Ele respondeu que sim. Logo disse que não viu um, e sim vários coloridos”, relembra. Dentro do universo lúdico, o simples também funciona. “Encho luvas descartáveis para fazer de bexigas, as crianças adoram”, diz a profissional Leila Cristina Rocha.

No atendimento geral de um hospital, onde as crianças não são maioria, pequenos artifícios como esses podem ser usados para facilitar os atendimentos mais complexos. Entretanto, para quem trabalha exclusivamente com crianças, as ‘mentirinhas’ e fantasias não podem virar rotina. “Eu trabalho em hospital infantil e digo, mentir pra criança não vale! Na maioria das vezes eu digo o seguinte: ‘Eu estou aqui para ajudar você a ficar melhor, por isso eu vou tirar uma foto do seu corpo para o médico ver. Não vai doer absolutamente nada, pois se fosse doer eu falava. Não tem agulha nem nada que vai te machucar e sua/seu mãe/pai vai ficar do seu lado’. Assim eu ofereço o avental de chumbo para o responsável e faço o exame com menos transtorno para o pequeno”, conta a profissional Mônica Faria.

No dia a dia de trabalho, a maioria dos profissionais observa que a estabilidade emocional das crianças depende dos pais. É mais fácil fazer o posicionamento radiológico e executar o exame se o acompanhante estiver tranquilo e convencido sobre a segurança do procedimento. Portanto, é importante ter diálogo aberto e transparente com quem vai ajudar na tarefa. “Muitas vezes os pais dão mais trabalho do que os filhos, já entram na sala falando que não vai doer e isso é péssimo, pois a criança já fica desconfiada que irá doer. Então o que eu faço sempre é explicar para a criança que ela irá tirar uma foto e falo que essa foto vai aparecer tudo por dentro, como o coração, os ossinhos e ainda complemento que ela irá levar para casa e mostrar para toda família. Quase sempre isso funciona”, alega a técnica Sandra Diniz.

Mas como tomar as melhores decisões e aplicar técnicas com paciência quando existe uma fila enorme de pacientes para atender e a pressão por resultados só aumenta? Nesses casos, sem abrir mão do profissionalismo, é necessário ter agilidade. “Acalmar uma criança agitada demanda tempo e, como o tempo é na maioria das vezes algo escasso para nós, o jeito é passar a bola para os pais, colocar foco grosso, girar o anodo e ficar de olho o momento oportuno para disparar”, considera o profissional Joubert Senra.

Nos procedimentos mais específicos, em que a criança, além de ficar quieta, deve executar algum comando, os profissionais recorrem a barganhas mais resolutivas. “Hoje eu passei por uma situação bem difícil, para realizar RX de Cavum em uma criança de 1 ano e 6 meses extremamente assustada, apavorada e a mãe chorando junto. Tentei pela primeira vez e não deu certo. Pedi para a mãe acalmar a criança a ela me perguntou se poderia dar de mamar. Sem querer, ela ajudou a solucionar o problema. Deitei a mãe na mesa de lado e colocamos o bebê a mamar. Realizei o procedimento, lindo! Mamando o ar passou certinho pelo nariz. As vezes, precisamos ser criativos e aproveitar as oportunidades”, lembra a técnica em Radiologia Bruna Laurentino.

Problemas complexos exigem soluções simples. Assim como é possível aprender técnicas eficientes nos livros e nos artigos, também é oportuno aprender soluções objetivas para o trabalho no diálogo com colegas e outros profissionais mais experientes. A vida profissional é a maior escola que uma pessoa pode ter.